Você já se pegou tolerando algo que, no fundo, sabia que não deveria? Talvez um comentário desrespeitoso ou uma atitude que foi deixando de lado por achar que “isso vai passar”? A tolerância é uma virtude, mas quando ela ultrapassa certos limites, ela se transforma em conivência. E, aos poucos, sem perceber, você pode estar se permitindo aceitar o inaceitável. No contexto de nossas relações pessoais e profissionais, isso pode gerar consequências profundas e duradouras. Vamos refletir um pouco sobre isso?
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O que é paciência e o que é conivência?

Antes de mais nada, é importante entender o que estamos chamando de paciência e conivência. Embora os dois conceitos possam parecer semelhantes, há uma diferença crucial que pode impactar profundamente a nossa vida.
A paciência é uma qualidade que nos permite lidar com as adversidades de maneira calma e ponderada. Ela nos ajuda a passar por momentos difíceis sem perder a compostura. Por exemplo, ser paciente com um colega que está enfrentando dificuldades no trabalho é uma atitude positiva, pois estamos apoiando o outro sem impor pressão.
No entanto, quando a paciência ultrapassa um certo ponto, ela se transforma em conivência. Conivência é a aceitação passiva de algo que sabemos que está errado, mas deixamos passar por medo de conflito ou simplesmente por inércia. É como se, em vez de agir de forma assertiva, a gente só fechasse os olhos para o que está acontecendo. Com isso, estamos aceitando comportamentos que ferem os nossos princípios, nossos valores e, o mais importante, a nossa dignidade.
Como a conivência pode afetar a sua vida?

Vamos começar com um exemplo simples. Quantas vezes você já tolerou algo em seus relacionamentos, sejam eles amorosos, familiares ou profissionais, simplesmente para evitar o confronto? Talvez tenha deixado passar uma piadinha machista de um amigo ou até mesmo relevado um comentário rude de um colega de trabalho. No início, pode até parecer inofensivo, mas a longo prazo, isso vai minando a sua autoestima e o respeito pelos seus próprios limites.
Especialistas como Carol Dweck, psicóloga de renome, afirmam que a forma como lidamos com essas situações reflete diretamente na nossa percepção de nós mesmos. Quando permitimos comportamentos desrespeitosos em nossa vida, acabamos internalizando que não somos dignos de respeito e que devemos aceitar qualquer coisa. Esse comportamento pode resultar em um ciclo de autossabotagem e de relacionamentos prejudiciais.
John Gottman, um dos maiores estudiosos sobre dinâmica de relacionamentos, também destaca a importância de estabelecer limites claros nas relações. Ele afirma que a falta de limites pode causar danos psicológicos duradouros, afetando tanto quem tolera comportamentos prejudiciais quanto quem pratica esses comportamentos.
O ciclo da conivência: como ele começa?
É bem fácil começar a tolerar comportamentos prejudiciais sem perceber. Imagine uma situação em que um amigo ou colega de trabalho faz um comentário desrespeitoso sobre uma mulher. Inicialmente, você até fica incomodado, mas acha que não vale a pena criar um conflito. A próxima vez, o comentário será um pouco mais ousado, e você novamente reluta em se posicionar. Esse processo vai se repetindo até o ponto em que você já não questiona mais essas atitudes. A conivência se instala de forma gradual e silenciosa, sem que você perceba, até que se torna um comportamento natural.
O maior perigo disso é que você acaba perdendo a noção do que é certo e errado, e passa a achar que esse tipo de comportamento é normal. Com isso, você se afasta cada vez mais de quem você realmente é, dos seus princípios e valores.
Por que temos medo de estabelecer limites?
É natural querer evitar conflitos, ainda mais quando as relações envolvem pessoas que gostamos ou situações em que precisamos de algo, como um emprego ou uma amizade. O medo de perder o que temos ou ser visto como “difícil” faz com que a maioria de nós se cale diante de atitudes que não deveríamos tolerar.
Quando falamos de conivência, muitas vezes estamos falando de um mecanismo de defesa emocional. Em vez de enfrentar a situação, a pessoa se omite, criando uma falsa sensação de paz. A psicologia comportamental explica que essa evasão de conflitos pode ser uma estratégia de proteção emocional no curto prazo, mas, no longo prazo, ela gera um acúmulo de frustrações e ressentimentos.
Leia o nosso artigo sobre o grande benefício de dizer não e o quanto esse comportamento favorece para a nossa saúde mental.
Como podemos quebrar o ciclo de conivência?
A boa notícia é que o ciclo de conivência não precisa ser permanente. Para quebrá-lo, é necessário estar atento aos sinais e agir antes que a paciência se transforme em conivência. Aqui estão algumas dicas para ajudar a restaurar os limites e fortalecer sua autoestima:
- Reconheça o problema: O primeiro passo é perceber que a tolerância excessiva está prejudicando você e suas relações. Refletir sobre o que você está aceitando e por que está aceitando é fundamental para começar a mudar.
- Estabeleça limites claros: Seja assertivo ao comunicar o que é aceitável e o que não é. Lembre-se de que ter limites não é ser rude ou egoísta, mas sim proteger a sua integridade.
- Comunique-se de forma assertiva: Quando você perceber que algo está ultrapassando os seus limites, não tenha medo de se posicionar. Fale com clareza e firmeza, sem medo de ser julgado.
- Pratique o autocuidado: Respeitar a si mesmo é fundamental para exigir respeito dos outros. Cuide da sua saúde mental e emocional, reconhecendo os seus direitos e necessidades.
Quando a paciência se transforma em um fardo

Muitas pessoas confundem paciência com a aceitação de tudo, sem perceber que essa ideia de “ser paciente” começa a se tornar um fardo. Imagine um relacionamento onde você tolera continuamente atitudes desrespeitosas, acreditando que “vai passar” ou que “tudo vai melhorar”. No início, isso pode parecer uma maneira de evitar brigas, mas, com o tempo, você perde a paciência real e acaba assumindo uma postura conivente.
Ao longo do tempo, as pequenas concessões podem se transformar em grandes problemas. O comportamento que você tolerou uma vez se torna o padrão e, sem perceber, você acaba aceitando uma situação que não deveria.
O impacto no trabalho: aceitando o inaceitável

No ambiente de trabalho, a conivência também é um problema sério. Quantas vezes você já se sentiu pressionado a aceitar sobrecargas de tarefas, piadinhas inadequadas ou comentários abusivos só para não perder uma oportunidade? Essa tolerância excessiva pode ser prejudicial não só para o seu bem-estar, mas também para a sua carreira.
Autora e psicóloga Brené Brown fala sobre a importância de sermos corajosos o suficiente para dizer “não” quando algo nos desrespeita, seja no trabalho, em casa ou em qualquer outro contexto. A autora enfatiza que a verdadeira coragem não é a ausência de medo, mas a disposição para enfrentar o desconforto de se posicionar, mesmo quando isso é difícil.
Como mudar essa mentalidade e fortalecer a autoestima?

Mudar a mentalidade de tolerância excessiva para uma postura assertiva e de respeito próprio pode ser desafiador, mas é um passo essencial para melhorar suas relações e preservar a sua autoestima. Isso envolve trabalhar com autoconsciência, entender os seus valores e acreditar que você merece ser tratado com dignidade. Estabelecer limites e agir de acordo com eles, mesmo que isso signifique sair da sua zona de conforto, é um passo poderoso para recuperar o respeito por si mesmo.
Conclusão: A paciência com limites é um ato de amor próprio
Em resumo, a paciência não é um problema quando ela tem limites saudáveis. No entanto, quando ultrapassamos esses limites e passamos a tolerar atitudes que vão contra os nossos valores, caímos no ciclo da conivência. Este ciclo prejudica nossa autoestima, nossos relacionamentos e nossa paz de espírito. Por isso, é fundamental aprender a reconhecer quando a paciência está se transformando em conivência e agir de forma assertiva para estabelecer limites claros.
Ao estabelecer esses limites, você não só se respeita, mas também contribui para um ambiente mais saudável e respeitoso ao seu redor. Portanto, seja paciente, mas não tolere o inaceitável.